Violações na autonomia sindical é tema de encontro jurídico em Brasília
Interferências do MTE e do MPT foram os destaques do IV Encontro Nacional dos Advogados das Entidades Sindicais da Categoria da Alimentação
Por Clarice Gulyas
O presidente da CNTA, Artur Bueno de Camargo (foto), aponta que está havendo interferência de facções do movimento sindical que defendem a implementação da pluralidade sindical. Ele também afirma que a flexibilização dos direitos dos trabalhadores remete aos interesses capitalistas que envolvem a classe empresarial e o governo. “A pluralidade é extremamente prejudicial porque vai dividir o movimento sindical no país. Por outro lado, o governo tem apoiado essas posições e nós precisamos fortalecer o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) para tentar buscar, conjuntamente com as demais confederações, alternativas para reverter esta situação”, denuncia.
Contribuição sindical e interferência do MPT
O presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Rio de Janeiro, Deuzélio Oliveira, afirma que o modelo de cobrança da contribuição sindical, independente da filiação de trabalhadores, é primordial para manter os sindicatos e fortalecer a luta dos trabalhadores, como, por exemplo, na realização de assembleias e negociações coletivas. “Se até hoje, em torno de 60 anos, ninguém mexeu na forma de contribuição, não é agora que vão mudar. A política atual quer ser moderna para extinguir, mas não achou outra forma de financiamento para os sindicatos. Se achar uma forma melhor, estudaremos se aceitamos ou não”, afirma.
Por conta da polêmica da Portaria 982, o advogado da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Minas Gerais, José Ferreira Pinto, afirma que o MPT têm interferido na organização sindical. “O MPT, às vezes até bem intencionado, interfere de alguma forma na organização sindical ao obrigar as entidades sindicais a estabelecerem acordos (Termos de Ajuste de Conduta) e a não obrigatoriedade do desconto do salário dos trabalhadores em favor das entidades sindicais, relativamente aos não associados. Ocorre, no entanto, que também os não associados se beneficiam da mesma maneira das condições originárias de um acordo ou convenção coletiva”, avalia José Ferreira, que defende a contribuição espontânea.
Frigoríficos sem regulamentação trabalhista
A falta de avanço na criação da Norma Regulamentadora do setor frigorífico foi outro tema de destaque no encontro. Há um ano em discussão no MTE, trabalhadores, governo e empresas não chegaram a um consenso sobre a concessão de pausas para descanso, dentre outras reivindicações dos trabalhadores. Por isso, entre as alternativas políticas e jurídicas discutidas para combater a precariedade no setor frigorífico estão a formalização de denúncias ao Ministério Público do Trabalho (MPT) e a retomada das negociações com a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
“A representação patronal tem dificuldade para viabilizar esta NR. Por se tratar de um setor crítico, altamente insalubre, decidimos aguardar até o mês que vem quando ocorrerá o último encontro entre trabalhadores, governo e patrões. Se a NR não for viabilizada, iremos desenvolver um trabalho de mobilização em todo o país. Esse é o limite que nós daremos e se nosso pedido não for contemplado, iremos retomar as negociações com a CNI ou de qualquer outra forma”, afirma Artur Bueno de Camargo, presidente da CNTA.
Entre as principais reivindicações que constam na NR estão pausas de 10 minutos a cada 50 minutos de trabalho, intervalos de 20 minutos a cada 3 horas para alimentação, e a redução da jornada de trabalho de 7h20 para 6h diárias, além da extinção das horas-extras. Com o Projeto de Lei nº03/2009 no Senado Federal, os trabalhadores também exigem a redução da exposição a baixas temperaturas e ao ritmo frenético de trabalho, dentre outras ações preventivas de acidentes. Já nas negociações com a CNI, iniciadas em setembro de 2010 e interrompidas para discussão da NR dos Frigoríficos, a categoria exige ainda o piso mínimo nacional de R$ 1.000,00.
Assessoria de imprensa da CNTA
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