Por Clarice Gulyas
Atividades interdisciplinares e aulas complementares são estratégias para reduzir o bullying nas escolas. Enquanto o projeto de lei (PLS 228/10) tramita em análise na Câmara dos Deputados para garantir o combate a ação nas salas de aula, colégios particulares adotam iniciativas próprias de conscientização. Para reverter a baixa autoestima de crianças e adolescentes hostilizados de forma constante e evitar o isolamento das vítimas e a queda do rendimento escolar, especialistas em educação afirmam que a diversificação das aulas podem contribuir para a socialização e convivência pacífica no ambiente escolar.
No Distrito Federal, estado com maior número de ocorrências de bullying do país segundo pesquisa recente do IBGE, o projeto de lei 156/2011 também tramita em análise na Câmara Legislativa. Leis estaduais e municipais contra a prática foram sancionadas no Rio Grande do Sul, Rio de janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. Cerca de 35% dos jovens brasilienses, de escolas públicas e privadas, admitiram já ter sofrido ridicularizações no ambiente escolar. Esse número se agrava quando a instituição é privada, com 35,9% das ocorrências, contra 29,5% nas escolas públicas.
Para a educadora Maria do Carmo Soares da Costa, coordenadora disciplinar do Centro Educacional Leonardo da Vinci, o relacionamento dos alunos pode ser fortalecido com o incentivo de gincanas e aulas complementares. Na escola em que trabalha há eventos constantes de confraternização entre os alunos e uma espécie de desafio cultural que concilia a avaliação de trabalho escrito com a apresentação obrigatória de toda a turma em forma de teatro, dança ou música.
“Essas dinâmicas favorecem muito a interação dos alunos. Ele é acolhido porque tem que participar para receber a nota em grupo e individual. Quando esse aluno é envolvido, ele começa a ser aceito. Temos percebido que isso tem dado certo porque é uma oportunidade de inclusão”, diz.
A prevenção do bullying também pode ser feita com a discussão do tema de forma interdisciplinar. No Centro Educacional Leonardo da Vinci, por exemplo, a prevenção ao bullying conta com um circuito de palestras com a participação de pais de alunos que são profissionais da área da saúde e do Direito. A orientadora educacional, Jane Mara Castelo Branco, também da mesma escola, acredita que o envolvimento dos pais com a comunidade escolar é essencial para construir um ambiente saudável para a instituição de ensino. Além disso, todos os funcionários devem ser orientados a perceber e comunicar o isolamento de alunos.
“A gente nota que esses parceiros fazem bem para os alunos e a família tem uma participação importante para ajudar no processo de conscientização. Muitas vezes o bullying começa na própria família, por exemplo, com aquela brincadeira de chamar o filho de baixinho”, diz.
A palestrante e promotora de Justiça Adriana Menezes aborda em suas apresentações a importância da denúncia de agressões com o ato de solidariedade e coragem. Também fala das penalidades as quais quem pratica o bullying está sujeito como medidas protetivas às crianças e medidas socioeducativas aos adolescentes. A promotora reforça que a sociedade como um todo tem o dever de zelar pelo bem estar dos jovens.
“Quando a escola não realiza tarefas como essa, que trabalham no desenvolvimento de prevenção e informação, a responsabilidade do bullying é transferida para os pais que podem responder civilmente pelo dano moral ou material”, diz.
As amigas Jéssica Tsai, 15 anos, e Luiza Ribeiro, 14 anos, alunas do 1º ano do Ensino Médio, contam que um dos colegas de classe já sofreu bullying por fazer interrupções freqüentes nas aulas. Mas o problema foi corrigido com o diálogo entre a orientadora educacional e a turma. “A nossa turma é bastante unida e quase isso não acontece. Às vezes a gente faz brincadeira uma com a outra, mas a pessoa que faz bullying, o faz freqüentemente com a intenção de incomodar a pessoa”, explica Luiza.
A psicóloga Ellen Dejanni explica que a participação da escola é fundamental para o acompanhamento do desenvolvimento dos jovens. Ela diz que na maioria das vezes o agressor sofre problemas pessoais e reproduz a violência doméstica por não saber lidar com impulsos e sentimentos que podem gerar a psicopatia.
“Os identificados como alvos e/ou autores apresentam maior probabilidade de desenvolverem doenças mentais e comportamentais, devendo ser considerados como um grupo de maior risco podendo manifestar um diagnóstico como um sujeito com hiperatividade, déficit de atenção, desordem de conduta, depressão, dificuldades de aprendizado, agressividade. Além de todas as demais já citadas, podem no futuro torna-se um psicopata”, explica.